MULHER CONSENTINDO EM DAR PRAZER
A rosa, finta de amor, deixa cair uma rilkeana pálpebra sobre o travesseiro.
A mulher abre um olho. O homem não espera que outras pálpebras se descer-
rem ou desprendam: transporta para dentro da mulher a sua carne irritada,
vigilante. Pela rosa do adro, o homem carrega, descarrega, carrega, descarrega.
É um talhante num jardim. A mulher está a consentir em dar prazer. O homem
vence.
MULHER PROCURANDO O SEU PRAZER
Sol ou lençol? Lençol. Há horas, demoras, que um milhão de pernas está no
areal: a perna de mil quilómetros da morte ao sol. A mulher recorta a sua
perna do lençol. Troca a perna com a do homem. Mulher com uma perna de
homem, outra de mulher.
Por beijos, harpejos, mordiscos, lambiscos, o homem é solevado, parte por
parte, do sono. Acorda com uma ostra em cima dele. Ou com uma costureira.
Alexandre O'neill
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