Esquerda: Franz Von Stuck, O Pecado, 1893
Direita: Jenny Holzer, Survival Series, 1987
“O próprio termo de ‘sexualidade’ surgiu tardiamente, no início do século XIX. (...)
Através de que jogos de verdade o ser humano se reconheceu como homem de desejo?(...)
Remontando assim da época moderna, através do cristianismo, até à Antiguidade, pareceu-me que não era possível iludir uma questão ao mesmo tempo muito simples e muito geral: por que é que o comportamento sexual, por que é que as actividades e os prazeres que dele resultam, são objecto de uma preocupação moral?
(...) a interdição é uma coisa, a problematização moral é outra. Pareceu-me, por isso, que a questão que deveria servir de fio condutor era a seguinte: como, porquê e sob que forma a actividade sexual foi constituída como domínio moral?(...)
Mas, colocando esta questão muito geral, e colocando-a à cultura grega e greco-latina, constatei que esta problematização estava ligada a um conjunto de práticas que tiveram, certamente, uma importância considerável nas nossas sociedades: é aquilo a que se poderia chamar as ‘artes de existência’. E por ‘artes de existência’ é necessário entender práticas reflectidas e voluntárias através das quais os homens, não apenas se fixam regras de conduta, mas também procuram transformar-se eles próprios, modificar-se no seu singular e fazer da sua vida uma obra que integra certos valores estéticos e responde a certos critérios de estilo.Estas ‘artes da existência’, estas ‘técnicas de si’ perderam, sem dúvida, uma certa parte da sua importância e autonomia, quando, com o cristianismo, foram integradas no exercício de um poder pastoral, e mais tarde, nas práticas de tipo educativo, médico ou psicológico.
(...) o primeiro grande texto cristão consagrado à prática sexual no casamento – é o capítulo X do livro II do Pedagogo de Clemente de Alexandria (...)
Os jovens atingidos por uma perda do esperma ‘carregam em toda a compleição do corpo as marcas da caducidade e da velhice; tornam-se flácidos, sem força, entorpecidos, estúpidos, abatidos, arqueados, incapazes de fazer o que quer que seja , com o rosto pálido, branco, efeminado, sem apetite, sem calor, os membros pesados, as pernas dormentes, de uma extrema fraqueza, numa palavra estão quase totalmente perdidos. Esta doença é mesmo, para vários deles, um caminho para a paralisia; como seria possível, com efeito, que a potência nervosa não fosse atingida, quando a natureza é enfraquecida no princípio regenerador e na própria fonte de vida’? Esta doença ‘vergonhosa em si mesma’ é ‘perigosa na medida em que conduz ao marasmo, prejudicial à sociedade pois se opõe à propagação da espécie; porque ela é, sob todos os aspectos, a origem de uma infinidade de males, exigindo portanto prontos-socorros’.
(Areteu, Des signes et de la cure des maladies chroniques, 1834)
(...) Estes medos provocados parecem ter constituído a réplica ‘naturalista’ e científica, no pensamento médico do século XIX, de uma tradição cristã que inseria o prazer no domínio da morte e do mal. “
(Continua...ou, brevemente, neste blog, ou nas páginas de HISTÓRIA DA SEXUALIDADE II – O USO DOS PRAZERES, de Michel Foucault. )
19.4.08
Etiquetas: As Escolhas das Q.U., HistoriSexidade, SexGallery
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