20.6.10

.

O amor e o amadorismo.
Segundo Camus, em O Mito de Sisífo, existem pessoas que nasceram para amar e outras que nasceram para viver. Don Juan, por exemplo, estava inserido nestas últimas.
Ao comentá-lo com um amigo, ele ter-me-á dito que nascera para amar. Que, aliás, amava, acima de tudo, o próprio amor. Entendo. Quantas vezes não terei pensado assim, em anos mais verdes. Não interessava tanto quem amava: o importante era o sentimento em si, que desabrochava e 'afrutava' em nós. Mas os anos passam. Nós passamos por eles. E o amor adquire novas texturas, novos sabores. Doces, amargos, ácidos. Rugosos. Maduros. Podres.
Já não é o amor que mais amo. O amor pelo amor. As mais frequentes desilusões são fruto desse tipo de am(ad)or. Porque, no fundo, no âmago dos âmagos, no caroço, quem ama somente o próprio amor, que quer estar, acima de tudo, apaixonado por alguém , e para quem a vida pouco sentido faz se estiver sózinho, tem grande dificuldade em amar as pessoas em si mesmas - as quais deveriam ser 'sujeitos', e não 'objectos' passivos, imutáveis, do seu amor. É um 'amor' egoísta (se é que isso pode existir), mais voltado para si, para o impacto causado pelo objecto, independentemente de quem (QUEM!) este seja na realidade. O OUTRO.
.

Sem comentários: