28.10.09

continuas chamando-me assim 'bebé, bebé'. be-a-triz!, meu querido.

A essência e o tipo de um amor delineiam-se mais rigorosamente no destino que ele reserva ao nome – ao nome próprio. O casamento, que rouba à mulher o seu nome de família para colocar em seu lugar o do marido, acaba também – e isto aplica-se a quase todas as formas de proximidade dos sexos – por não deixar intacto o seu nome próprio. Ela envolve-o e transfigura-o com diminutivos e nomes familiares sob os quais ele desaparece ao longo de anos e mesmo decénios. No pólo oposto ao do casamento neste sentido amplo, e só assim – no destino do nome, e não no do corpo – verdadeiramente determinável, está o amor platónico, no seu único sentido autêntico e relevante: como amor que não sacia o seu desejo no nome, mas ama a mulher amada no nome, a possui no nome e no nome lhe faz todas as vontades. O ele preservar e proteger intocado o nome, o nome próprio, da amada – é isso e só isso a verdadeira expressão da tensão, do impulso para a distância, a que chamamos amor platónico. Para este amor, a existência da amada emana do seu nome como os raios que irradiam de um núcleo incandescente, e a própria obra do amante emana dele. Assim, A Divina Comédia mais não é do que a aura em volta do nome Beatriz; é a mais poderosa demonstração de que todas as forças e formas do cosmos emergem do nome, nascido intacto deste amor.
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Walter Benjamin, Imagens De Pensamento
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