3.9.10

amo-te

.
não. não é por birra que eu evito dizer tais palavras (ou 'tal palavra' - é quase uma só). é pela sua falta de musicalidade. não me faz dançar. o que é estranho.

visualmente falando, elas têm um sentido estético bastante elevado, muito mais bonitas, limpas e soltas do que i love you ou je t'aime. o que não condiz com a sua sonoridade. digo-o umas dez vezes seguidas e fico com dores de garganta. dou um nó na faringe (e traqueia, até aos pulmões) de tanto 'ginasticar' as cordas vocais para conseguir que saia alguma coisa cá de dentro. sentidos ambíguos e dinâmicas opostas de circulação de ar, sangue, expressão, que causam tonturas e, consequentemente, uma certa náusea. "não te engasgues!". agora entendo a minha faringite crónica.
com pronúncia do norte, por exemplo, abrindo mais as vogais como quem abre portas e deixa entrar ventos que sopram doidos, soa um pouco melhor, menos desajeitado do que correctamente pronunciadas: mais livres, de acordo com aquilo que significam. ou como dizem os espanhóis ou os italianos.
já nós, na generalidade, portugueses de portugal... nós quase as estrangulamos na boca. dizemos para dentro. rasteirinho. mas não creio que seja intencionalmente. é a fonética. uma fonética sufocante no tom mais grave do piano - de tão grave parece não produzir som."o que é que disseste? desculpa, mas não deu para perceber que silabas eram essas que te saíram da boca"; "deixa lá. se calhar, não era assim tão importante".
pólvora seca disparada para o ar. quem está mais atento, parece escutar uma sentença de morte.

- amo-te.
- santinho!

até podem dizer por aí que o amor é cego, mas surdo ele não é certamente. tem os ouvidos bem apurados. não. não é por ter qualquer problema em exprimi-lo, por recear revelar falta de pudor linguístico, falta de paixão e entusiasmo em gritar (ou qualquer outra razão que a própria razão desconhece) que, geralmente o calo. ninguém me convence disso. não é verdade. é bom ouvido.
.

Sem comentários: