23.9.10

os amantes irregulares

ele – Caminhar até mim é ir até onde? É passar por onde?

ela – Caminhar até ti… é ir até onde tu me deixares ir. E caminhar até mim?

ele – Dir-to-ei numa outra altura.

ela - Quando, em que música me irás tirar para dançar contigo?

ele – Se algum dia tocar uma nossa música… Não sei. Daqui a um mês, a um ano, a um século …

ela - Um ano para Júpiter é diferente de um ano para Mercúrio. E se o nosso tempo passar? O tempo é um processo cósmico irreversível.

ele – Será? Ou será que confundimos tempo com os processos irreversíveis? E por isso é que concluímos que o tempo é irreversível?

ela – Se esse processo se desse inversamente, não existiria tempo? Ou, pelo contrário, se, por exemplo, a terra rodasse no sentido oposto, haveria tempo?

ele – Chamamos tempo ao irreversível, ao irrepetível. Será o tempo irreversível por haver um Sentido? Uma orientação, em direcção a? Uma finalidade? Será essa irreversibilidade do tempo, precisamente, a prova de uma finalidade inscrita num universo? De um determinismo? Um processo como um 'modo de ser'? De vir-a-ser? O homem é um ser peculiar de tempo. Desta relação especial entre o homem e o tempo surgem emoções, sentimentos, tais como ansiedade, fruto da consciência do futuro, ou saudade, arrependimento, que é a consciência do passado. Angústia. Medo... de perder alguém. A memória é uma tendência de inversão do tempo. A consciência do Tempo parece-me ser um dos princípios geradores da nossa liberdade: liberdade de fazer, voltar atrás, corrigir e refazer. REpetir. RElembrar. A Vida é esse 'RE'. O Presente é apenas um instante fotográfico. Mas um retrato do Real não é o Real. O Tempo é fluido, um devir. Pode ser captado, mas não capturado. E, assim, somamos momentos. Damos-lhes sentido. Chamamos-lhes vida, morte, amor, ódio, nós...

ela – Os tempos cronológicos, matemáticos, não me dizem muito. Sinto o tempo a bater-me no peito. Um tempo, um ritmo biológico. Uma música: pum-pum, pum-pum, em vez dos ciclos planetários. Uma música ao som da qual gravito em torno de ti, nas pontas dos pés.


1 comentário:

Carrie (ou não) disse...

afinal quem é de marte e quem é de vénus?