21.6.10

um significado especial

- ou o quanto ter algum significado pode significar.
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Mas, afinal, o que é que significa dizer "Aquilo não significou nada para mim"? "Eu não signifiquei nada para ti?" O que é que significa alguém significar alguma coisa para nós, O que significas para mim? Em última análise, o que é que significa o quê?
Estas questões surgiram-me ao escutar sucessivamente afirmações (de negações), tais como "aquele beijo não significou nada para mim" ou "foi só um caso, sem significado algum".
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No dicionário de lingua portuguesa, significado significa (1) aquilo que uma coisa exprime ou representa (2) sentido de uma palavra ou de uma frase (3) palavra ou frase equivalente a outra (7) importância; valor; alcance.
Segundo o dicionário de filosofia, Ferrater Mora, "Na linguagem quotidiana manifesta-se com frequência que 'significar' equivale a 'querer dizer'. Mas quando perguntamos o que 'querer dizer' exprime encontramo-nos com várias respostas. Segundo elas, a significação pode ser (...) até ao ponto de 'coisa significada' querer dizer 'coisa significada mediante um conceito'."
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'Tu siginificas muito para mim' pois ajudas a definir quem sou, quem quero ser.
Será? A significação do outro como definindo o meu ser.
Quão importante é significar alguém mediante nós, mediante o conceito que temos de relação?
Talvez isso suceda porque parece fazer a vida significar algo. Adquirir sentido. Sem sentido, não consigo ser. Ser-me. És-me. Sou-te. Nem eu sei bem o que é que estou a 'querer dizer' com isto.
Geralmente, algo tende a perder significado para nós quando deixa de fazer sentido. Ou, ao contrário, passa a significar quando nos convém fazer sentido. Um beijo, por exemplo. "Aquele beijo". Aquele beijo que não chegou a ter significado, pois foi dado a um terceiro (excluido). Eu mesma o exclui, pois não fazia sentido intrometer-se entre os "dois" que já éramos. Tu sim fazias sentido. Não ele, o outro. O outro, o terceiro, provocaria o caos se eu tentasse, inclui-lo em mim, compreender a sua existência. O porquê do beijo. Aquele. Aquele que ia num outro sentido, variante, do rumo que nós, nós os dois, decidimos que a nossa vida iria tomar. Como uma cor que impressiona mas decido não colocar no quadro. Uma ideia perturbante que apago do livro que estou a escrever. Mas ele lá fica. Lá, nesse algures inabitável. Até, quem sabe, um dia, em que decido resgatá-lo do insensato. Porque aquilo que havia decidido ser 'o sensato', o significativo, acabou por ser uma desilusão. E aquele momento efémero, cor e frase confusas, beijo, foi o único que fez, realmente, algum sentido. E é a partir desse borrão, num outro contexto, que escrevemos uma nova história (ou não?).
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3 comentários:

The Insistent Tourist disse...

But how can someone be defined in a purely (strictly) independent way? How do you define someone that was born, lived and died in a metal box, never coming in contact with any living being? It is our very interaction with others that defines us. Does it really matter if I make the most beautiful painting in the world only to burn it as soon as I finish it, not letting anyone to see it?
It is giving significance to an "idea" rather than a person (or a any subject in general) that is wrong.
"You are what you love, not what loves you" (Donald Kaufman to Charlie Kaufman in the movie "Adaptation")

K

ps ...but I will...

Carrie (ou não) disse...

lost in google translation?... ;)

Carrie (ou não) disse...

i don't totally agree with donald kaufman: i am what i love, still... i am what loves me, as well.